"Trazer luz à obscuridade, transmutar ignorância em conhecimento, é colaborar com o processo de redenção do planeta."

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O Caminho da Compaixão



Há muitas maneiras de se praticar e muitos fatores diferentes que constituem uma prática de sucesso. Um dos mais importantes é a compaixão. O significado buddhista do termo "compaixão" é diferente do significado comum. A maioria das pessoas usa a palavra de um modo muito limitado para comunicar o sentido de sentir dó, ou pesar, por uma pessoa ou situação específicas. Esse tipo de compaixão existe em todo lugar no mundo. Todo ser a experimenta em algum grau. Isso não é para denegri-la, contudo. Os dez tipos de atividade virtuosa que resultam, por exemplo, em alcançar um nascimento humano são motivados por este tipo de compaixão limitada.

Mas quando nossa meta é despertar para o estado búddhico, nossa compaixão deve ser muito maior do que a compaixão ordinária através da qual alcançamos um corpo humano. Mesmo animais ferozes como leões, tigres e leopardos têm um grau de compaixão por sua cria. Logo, ter esse tipo de compaixão não nos distingue, como praticantes, de outros seres sencientes. Todo ser senciente tem algum nível de compaixão rudimentar pelos outros.

No contexto do Dharma, a verdadeira compaixão é completamente livre de preconceitos e tendências e é toda abrangente; é sentida universalmente por todos os seres sem exceção. Em última instância, é referida como vacuidade imbuída com o coração da compaixão, no sentido de que a realização da vacuidade e da compaixão toda abrangente, espontânea e desobstruída são virtualmente idênticas. Não podemos experienciar uma sem a outra. Num certo sentido, até que tenhamos verdadeiramente realizado a impermanência, a natureza fundamental da mente, não teremos realizado verdadeiramente a compaixão e, portanto ela não será completamente autêntica ou desobstruída.

Isso não significa que nesse ínterim não devamos tentar desenvolver esse tipo de compaixão. A questão é desenvolvê-la de uma maneira livre de preconceitos em relação a todos os seres, sem qualquer divisão arbitrária em nossas mentes. De maneira última, quando descobrimos a verdadeira natureza da mente, experimentaremos espontânea e plenamente aquela compaixão autêntica, e não apenas com nossos pais, com nossos filhos ou com aqueles de quem gostamos. Muitos dizem, "Eu consigo ter compaixão por todos os seres lá fora, mas não com a pessoa sentada aqui do meu lado". Mas ter compaixão por todos os seres significa todos os seres.
É nesse vasto sentido que falamos de compaixão dentro do contexto do Dharma.

Ter compaixão verdadeira requer uma diferenciação, ter uma perspectiva maior da situação na qual estamos exercendo a compaixão. Quando uma criança está brincando perto de um precipício, os pais precisam da diferenciação para ver além do mero fato de que a criança está brincando; eles precisam reconhecer que a criança está brincando perto de uma área perigosa e que deve ser removida dali. A criança é claro, está absorvida na brincadeira e não tem essa visão mais ampla. Do mesmo modo, quando estamos desenvolvendo compaixão, precisamos estar cientes não apenas da situação imediata, mas também das causas que levaram àquela situação e os eventos futuros que podem resultar dela. Com essa perspectiva maior, podemos responder mais efetivamente. De outra maneira, se apenas vermos a situação imediata, tendemos a cair em compaixão ordinária.

A motivação é um estado mental e a tradição buddhista dá total importância à mente. Por que ela é tão crucial? Porque a experiência dos fenômenos está enraizada na mente do indivíduo que a está experimentando. Podemos pensar na nossa mente como um campo que deve ser adequadamente preparado e lavrado para que uma safra possa ser plantada e crescer forte.

Fazer prática espiritual é como plantar sementes num solo bem preparado e lavrado. Por assim dizer, quando nos empenhamos na prática, nossa mente deve estar bem preparada: muito límpida e clara, não agitada ou em tumulto devido a preocupações mundanas. Se o campo não está adequadamente preparado, as sementes não crescerão e não haverá uma boa colheita. Do mesmo modo, se não assentamos a fundação de uma mente bem preparada para a prática, então não importa o número de professores que tenhamos ou o número de instruções especiais que tenhamos recebido deles, as sementes não crescerão. Isso não é assim porque os professores ou os ensinamentos não tenham valor ou poder, mas porque não tomamos o tempo para preparar o solo: preparar nossa mente como um vaso que possa receber os ensinamentos.

por Tam Huyen Van
NDezembro, 2005
Ano Buddhista 2549.

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