"Trazer luz à obscuridade, transmutar ignorância em conhecimento, é colaborar com o processo de redenção do planeta."

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A opção é uma necessidade




Tensão, angústia, ansiedade, raiva, medo, os valores impostos
nos infernizam. Muitos se transformam em "cabeças de fósforo".
É preciso reconhecer muita engenhosidade no ser humano para conseguir construir essa parafernália psico-influenciadora, com tamanha capacidade, alcance e profundidade, para mascarar minuciosamente a realidade, criando uma realidade fictícia, na qual as pessoas se adaptam e acomodam, para manter tudo como está. Um aparato complexo de condutores de opinião, distorcedores de fatos e realidades, construtores de aparências mentirosas, mas “convincentes”, está instalado e em pleno funcionamento. São criadores de visões de mundo, de valores e de desejos individuais e coletivos. Depois que descobriram o caminho do inconsciente, os "donos do mundo" puderam amarrar a situação pelo maior número de lados possível, armados com a posse do desenvolvimento tecnológico que deveria servir a todos. E invadiram as instituições, seqüestrando os Estados e os coagindo a serviço dos seus interesses, em prejuízo das populações como um todo, apenas beneficiando algumas camadas, sempre minorias, para que garantam o funcionamento do sistema de exploração e sabotagem da maioria, de exploração e consumo dos recursos do território, violando direitos humanos e leis ambientais para concentrar mais poder e riquezas. Não é preciso investigar minuciosamente o interior da estrutura social para perceber a quem o Estado serve. Basta observar como são tratadas as parcelas mais empobrecidas e as intermediárias, na base da sociedade. Não é preciso ser nenhum gênio acadêmico. É óbvio demais.

Só que não é possível amarrar todos os lados. Há sempre pontos soltos, brechas, rachaduras. É aí que a gente entra. Cada atividade no sentido de quebrar as correntes de mentiras que nos prendem é útil e necessária, seja qual for sua dimensão. Cada trabalhador que use o que tiver na mão, britadeira, picareta, ponteira e marreta, martelo, lima, ácido, ferrugem, maçarico, mesmo as unhas e os dentes. E também o carinho, o amor, a paciência, a tolerância e a persistência. O ódio e a violência, o insulto e a intriga são as armas do opressor. Podemos produzir armas mais criativas e bonitas, criadoras de vínculos e raízes muito mais fortes e profundas. Sem esquecer que estamos todos envolvidos por camadas de correntes construídas por séculos a fio, das mais grosseiras às mais sutis. Procurando e trabalhando em nós mesmos, profunda e sinceramente, aumentamos o alcance e a eficiência do nosso trabalho dentro da coletividade, além do nosso próprio desenvolvimento humano, pessoal. A partir do indivíduo se forma o grupo. Trabalhar nossa própria individualidade é o primeiro passo para trabalhar o coletivo.

Não é um sacrifício ou um esforço enorme fazer o que faço, produzir arte reflexiva. É uma forma de sentir valor na existência. Sem isso, minha vida perde sentido. É uma necessidade, não um "heroísmo". Eu estava perto dos dezenove quando resolvi dedicar a minha vida a produzir ou provocar reflexões, questionamentos, proposições, sempre no sentido da mudança. Isso porque a minha vida não fazia sentido, a angústia era insuportável e eu já começava a vislumbrar algumas razões – e são muitas. Não conseguiria assimilar os valores sociais apresentados como “ideais”.

Preciso trabalhar no sentido de uma sociedade que não admita situações de indignidade, não admita fome, miséria, ignorância, carência de qualquer tipo. Uma sociedade que priorize as situações de fragilidade, priorize os serviços públicos, educação ao nível do melhor ensino, com profissionais vocacionados, assim como no atendimento médico - preventivo e não curativo. Um Estado livre dos vampiros, morcegos, percevejos, pulgas, carrapatos e outros sanguessugas que o enfraquecem, tornando-o incapaz de defender sua população, incapaz de cumprir suas funções constitucionais e garantir os direitos fundamentais de todos. Uma sociedade em que o valor da vida não seja mais determinado pela propriedade privada. Em que a vida valha mais que a propriedade.

Seria ingenuidade esperar viver numa sociedade assim. Não trabalho para ver o resultado. Trabalho na direção do resultado que eu desejo, não para mim, mas para todo mundo. Conheci muita, mas muita gente trabalhando diretamente no aprimoramento do ser humano e da sociedade. Há pessoas em todos os meios, dos puteiros às intituições religiosas, das escolas primárias aos institutos de pesquisas avançadas, das favelas aos bairros ricos, dos “chópim-center” (por incrível que pareça) aos partidos políticos, das cadeias aos condomínios, dos casebres às mansões. São exceções à regra em todos os lugares e tempos, pedras preciosas no cascalho humano, que distribuem brilho em seu meio, na coletividade à sua volta, seja na profissão que for ou em qualquer atividade. A diferença do ser humano pro garimpo é que, no caso do ser humano, a preciosidade é contagiosa. Consciência chama consciência. Luz elimina trevas. Os acendedores estão por aí, anônimos e atuantes, em toda parte.

Isso me dá a convicção, como se não bastassem as evidências da história do planeta, de que o processo está em curso, um processo evolutivo contínuo e inabalável, com ritmo próprio, individual e coletivo. Nessa visão, moldei minha vida e meu trabalho pelo mundo. É uma necessidade minha, pessoal e intransferível.

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