Em hebraico, a mão é simbolizada pela letra Y (Yod), que encontrada no tetragrama YHVH, que significa Javeh (Yod hé vav hé), divino. A palavra mão está ligada ao conhecimento. Tocar a mão, apertar a mão, é se apresentar, é firmar um conhecimento.
Na tradição dos Terapeutas, existe a prática da imposição das mãos. Através das mãos comunicamos nossa energia, nosso coração. Mas também, através das nossas mãos, podemos comunicar algo maior que nós e que não nos pertence. No Evangelho de Tomé há uma frase que diz: - “Teremos uma Mão na nossa mão”. Na nossa mão há a mão da vida. É interessante sentir, às vezes, esta presença em nossa mão.
Em determinadas práticas orientais, trabalha-se multo com modais, que são gestos rituais das mãos e dos dedos. Fazendo as mãos dançarem, podemos curar uma pessoa. É verdade que a ponta dos nossos dedos está ligada ao cérebro. No Monte Athos, fiquei muitas vezes surpreso ao ver os monges, velhos ou novos, que tricotavam. Essa prática, para eles, era uma maneira de apaziguar o mental. Porque há um elo entre as mãos e o cérebro. Quando, por exemplo, rezamos o terço, quando temos as mãos ocupadas em um trabalho manual, quando temos alguma coisa entre nossas mãos, nosso mental, nossa psique, se acalma.
Poderíamos nos interrogar: como sentimos nossas mãos? Como é o contato de nossas mãos com o corpo do outro, com uma pedra, com os elementos que nos cercam?
Poderíamos nos interrogar também sobre o simbolismo dos cinco dedos. O polegar, na tradição antiga, representava o dedo de Vênus e, também, a cabeça. Nas arenas da Roma antiga, durante as lutas entre os gladiadores, o povo reclamava a cabeça do gladiador vencido girando o polegar para baixo.
A estória do Pequeno Polegar é a estória de uma criança que escuta a intuição que lhe vem da cabeça. É um conto simbólico e seria interessante que nós o interpretássemos. Na estória “As Botas de Sete Léguas”, o Pequeno Polegar abriu sua cabeça aos sete dons de Espírito, o que lhe permite compreender o que a sua simples razão não poderia alcançar.
O indicador é o dedo de Júpiter e está ligado à vesícula biliar. O médio é o dedo de Saturno, ligado ao baço e ao pâncreas. O anular é o dedo do Sol ligado ao fígado. O mínimo é o dedo de Mercúrio ligado ao coração. Vejam então que, na antropologia antiga, esta relação é feita entre uma parte do corpo humano e todo o universo, todos os planetas com os quais esta parte está em ressonância.
Pegamos na mão de aIguém para cuidá-lo - na reflexologia há técnicas muito precisas sobre isso. Podemos pegar os pés, às mãos, as orelhas, porque cada parte está ligada à totalidade do corpo. E podemos cuidar do fígado, do pâncreas, da vesícula biliar, simplesmente massageando e trabalhando as mãos. Nos mudras, nos gestos simbólicos das danças indianas, existe não só uma função estética como também uma função de cura.
Em nossas línguas temos uma expressão “o seu dedo mindinho me contou”. O dedo mindinho está ligado ao coração. Como o Pequeno Polegar se deixa guiar pela cabeça, algumas vezes nosso mindinho nos diz muitas coisas.
Poderíamos fazer uma bela meditação sobre este terna das mãos. Na hora de sua morte, que mão você gostaria de ter entre as suas? Alguma vez fomos tomados pela mão? Já fomos conduzidos pela mão? É sempre emocionante ver uma criança pequena conduzida pela mão de sua mãe ou de seu pai. Porque há, neste caso, uma transmissão de conhecimento. São dois universos, com o Sol, Vênus, Júpiter, os diferentes planetas, que se encontram.
A propósito do casamento, o rapaz pede a mão da moça. Mas o problema é que, às vezes, ele pede a mão da moça ao pai ou à mãe. E a sua própria mão nem sempre está de acordo.
Encontramos esta expressão em diferentes tradições - a mão de Deus. Algumas vezes podemos nos sentir guiados, como se tivéssemos uma mão pousada em nosso ombro, em nossa cabeça, nas nossas costas, para nos fazer avançar, para nos manter de pé. Há um momento onde nos fundimos. E alguns de nós sentiram bem profundamente esta mão, esta mão invisível. Como terapeutas podemos trabalhar, cooperando com esta mão.
Não lhes falarei sobre a tradição dos chacras. Na UNIPAZ há diversos seminários sobre esta tradição hinduísta. Gostaria entretanto de apresentar-lhes um trabalho que fiz, semelhante a um trabalho de Pierre Weil e relacionado a trabalhos de Reich e Lowen. Coloquei os anéis de Reich, os anéis de tensão e de crispação nos níveis pélvico, abdominal, diafragmático, torácico, oral e ocular, em relação a abordagens contemporâneas, ao trabalho de Maslow e às tradições antigas, entre elas os chacras e as representações cabalísticas do ser humano. Igualmente com a tradição do Vedanta que fala sobre os diferentes envelopes do corpo. O envelope da nutrição, a camada da emulsão, o envelope da respiração, a camada da mente, do pensamento, até esta dimensão de nós mesmos chamada Anandamayakosha, que é o nosso corpo de bem-aventurança.
Quando tocamos um corpo, podemos tocá-lo em diferentes níveis, em diferentes camadas. E foi isso que lembramos o tempo todo. Relacionamos nosso trabalho com os de Reich, Lowen, Maslow, psicólogos contemporâneos, e com as grandes tradições espirituais, como a hindu, a judaica, a budista e a cristã.
Podemos traduzir tudo isso em uma linguagem bem contemporânea, quando falamos de nosso corpo material, quando falamos de nosso corpo energético, quando falamos de nosso corpo espiritual. É preciso, ainda uma vez, não opor as linguagens mas ver que cada uma destas linguagens pode nos ajudar a melhor compreender o ser humano. E a melhor cuidá-lo. Para o nosso bem-estar e o bem-estar de todos.
A Cabeça
No rosto encontramos a mesma escada do corpo. A boca está relacionada à fase oral. A mandíbula é muito importante e está em relação à fase anal. Está ligada às nádegas. Assim, as pessoas que têm as mandíbulas contraídas têm também as nádegas contraídas.
Uma foto célebre de Mussolini o mostra com as mandíbulas crispadas, colocando o pé sobre uma mulher estendida em um tapete. As mandíbulas de Mussolini são famosas, sempre cerradas assim como os punhos, e as nádegas contraídas. Expressa perfeitamente o estado sado-anal. E o seu comportamento para com a mulher que está a seus pés é uma dolorosa ilustração da fase do desenvolvimento na qual ele permaneceu fixado. É preciso ver, igualmente. as conseqüências que isso pôde ter em sua política.
Portanto, a atitude corporal dos nossos homens políticos pode nos esclarecer sobre o modo como eles conduzem o país. Poderíamos fazer estudos interessantes sobre o assunto.
O nariz está ligado à sexual idade. As maçãs do rosto estão ligadas ao ventre. Vocês notam que alguém em boa saúde tem as bochechas rosadas. Pessoas com problemas hepáticos ou intestinais têm as maçãs do rosto encovadas. Ainda uma vez, quando olhamos alguém, não se trata de julgá-lo, de fechá-lo em seus sintomas, mas sim de melhor conhecê-lo para melhor amá-lo.
Os olhos estão ligados ao coração - olhos abertos, olhos claros e luminosos. Entretanto, há olhos opacos, olhos sem visão. É muito duro ser olhado por olhos sem olhar. Porque, então, ficamos reduzidos a uma coisa, a um objeto. Não há o encontro de pessoa a pessoa, de coração a coração.
A testa nos correlaciona com este estado do mental, do pensamento, e é também um livro importante a escrever. Há toda uma interpretação de nossas rugas, ao redor dos olhos, em torno da boca. Estas rugas são como linhas escritas que contam nossa história. É pena que, às vezes, queiramos apagá-las, porque são o livro da nossa vida.
E temos as orelhas. Buda é sempre representado com grandes orelhas. Mostra sua capacidade de escutar, de escutar a palavra, mas escutar também o silêncio de onde a palavra se origina e para onde ela volta. Este silêncio algumas vezes envolve a pessoa, não apenas em sua cabeça, mas em todo seu corpo. Portanto, há esta presença do Espírito, da chama do Espírito que pode descer a todos os níveis do ser.
Encontramos novamente todos os chacras. Há um trabalho que pode começar embaixo dirigindo-se para o alto e há um trabalho que desce da nossa testa em direção a nossos pés. É preciso, ao mesmo tempo, elevar-se a Deus e saber que há o Espírito de Deus que desce e que quer nos habitar.
Certas vezes, nossas estrelas estão quebradas ou estragadas porque nós só trabalhamos no nível humano. Outras vezes, é o poder divino que toma todo o espaço e o homem se considera como nada ou quase nada. O que temos que reencontrar é a estrela, a estrela da Síntese. E levarmos conosco esta imagem.
Conclusão
A partir de agora, cabe a cada um de nós continuar o seu caminho. A leitura do corpo que lhes propus foi feita unicamente para estimular as suas próprias leituras. As minhas interpretações foram feitas para estimular seus poderes de interpretação sobre os sintomas e os acontecimentos de suas vidas, iluminando-as pelas pesquisas das ciências contemporâneas e pelo aporte espiritual das grandes tradições.
Para terminar, vivamos um momento de silêncio. Vivamos este momento de silêncio lembrando-nos da frase: Procure a resposta lá onde você colocou a pergunta. A resposta está lá onde a pergunta foi feita. Para alguns de nós, a pergunta vem do corpo e as respostas estão no corpo. Para outros, a pergunta vem do coração e a resposta está no coração. Para outros a pergunta vem da razão. Cada um, procurando as causas de sua pergunta, indo ao fundo dela, pode descobrir a resposta. Uma resposta que não venha do exterior, mas que jorre do interior. Do interior do nosso silêncio.
Fiquemos então com o nosso corpo em uma boa postura, os pés bem firmados na terra, as nádegas relaxadas, a coluna vertebral tão ereta quanto possível, o queixo um pouco para dentro para liberar a nuca, as mãos tocando-se sobre os joelhos. Sintamos o contato de uma mão com a outra, os maxilares descontraídos, a testa o mais relaxada possível. Sintamos todo o nosso corpo como um templo. E neste templo acolhamos o Sopro. Procuremos degustá-lo e saboreá-lo. E deixemos agir em nós a força da inspiração e da expiração para que todo o nosso corpo seja lavado, curado. Deixemos vir a luz e que ela se inscreva nas partes mais dolorosas do nosso ser. Sintamos que somos um corpo de matéria, de lama e também um corpo de cristal, um corpo de diamante. Simplesmente respiremos na presença do Ser que É. E permaneçamos juntos nesta presença para o bem-estar de todos os seres.
Quando quisermos, abramos os olhos e tenhamos um pensamento de bênção por aqueles que convivem conosco e que vamos reencontrar em nossa caminhada. SHALOM!
In: LELOUP, Jean-Yves. O corpo e seus símbolos: uma antropologia essencial. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
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