"Trazer luz à obscuridade, transmutar ignorância em conhecimento, é colaborar com o processo de redenção do planeta."

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ruído, palavra, silêncio.


Ruído, palavra, silêncio.
Estas três palavras marcam nitidamente os três estágios evolutivos do homem e da humanidade.

O homem intelectual de hoje é uma fronteira entre o homem bárbaro de ontem e o homem espiritual de amanhã.
 

O homem chamado civilizado é amigo da palavra, veículo externo de processos mentais internos.
 

O homem selvagem de outrora e de hoje manifestava e manifesta a sua vitalidade e emoções por meio de ruídos de toda a espécie.
 

O homem que superou esses dois estágios preliminares encontra o seu reino predileto no silêncio, que para ele não é vacuidade, mas plenitude.
 

Para além da palavra está o silêncio; para aquém da palavra, o barulho.
 

O ruído, inarticulado ou articulado, foi sempre o inseparável companheiro do homem incompleto, desde os gritos estridentes das hordas antigas até os gritos orquestrados das hordas modernas. O homem só começa a sentir o desprezo do ruído quando se distancia da análise mental e se aproxima da intuição espiritual - e no zênite da experiência íntima impera o silêncio absoluto, fecundo, criador, o silêncio - plenitude. A mensagem dos grandes silenciosos perdura através dos séculos e milênios, porque não é afetada pelas categorias de tempo e espaço.
 

A palavra constrói para o tempo, e, não raro, destrói o que construiu - o silêncio constrói para a eternidade.
 

O amante da palavra pensa que o amigo do silêncio seja um homem triste e misantropo - mas o amigo do silêncio vive num paraíso de felicidade, ainda que a sua beatitude se encontre numa outra dimensão, ignorada pelo idólatra do ruído e da palavra.
 

Deus é infinitamente silencioso, e quanto mais o homem se aproxima de Deus mais silencioso se torna.
 

O ruído é dos homens - o silêncio é de Deus.
 

O ruído esteriliza - o silêncio fertiliza.
 


(In: A Voz do Silêncio, Huberto Rohden, Editora Martin Claret, São Paulo, 1992.)
 


por: Huberto Rohden

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