"Trazer luz à obscuridade, transmutar ignorância em conhecimento, é colaborar com o processo de redenção do planeta."

terça-feira, 9 de junho de 2009

Minha Jornada ao Teísmo

Originalmente publicado em Back to Godhead [Volta ao Supremo], revista fundada por Sua Divina Graça Srila Prabhupada no ano de 1944

Artigo referente à edição do bimestre de novembro/dezembro de 2008


My Journey to Theism

por Narada Rsi Dasa


“Embora eu fosse ateísta, Deus sempre me atraía, e Ele era um verdadeiro mistério para mim”.

Quando um estudante de quatorze anos, encontrei-me com um comunista, o qual me deu alguns livros para ler. Ler era o meu hobby favorito, e eu tinha grande interesse em ler diferentes tipos de livros. Eu, então, comecei a ler os livros comunistas. Eu estava na idade em que muitos garotos e garotas querem se revoltar contra as tradições e normas, e eu não fui exceção. Ao contrário, eu era mais revolucionário do que os meus colegas de classe, e os livros comunistas apenas pioraram as coisas.

Os livros diziam que os capitalistas enganam as pessoas em nome de Deus e de religião. Os livros explicavam como o nosso sistema solar havia sido criado e como o nosso planeta Terra e outros planetas haviam sido criados a partir do sol há alguns bilhões de anos. Anteriormente, eu havia aprendido que Deus criara tudo, mas eu não sabia os detalhes de como Ele havia feito isso. Foi por isso que, quando li que a Terra havia sido criada em decorrência da grande atração entre o sol e uma outra estrela, eu prontamente aceitei tal fenômeno sem questionamento. Minha mente estava pronta para abarcar essas idéias, que eram fantásticas e contra a tradição. Como resultado, tornei-me ateísta bastante jovem, e continuei a sê-lo por cerca de trinta anos, até a idade de cinqüenta e quatro.

Quando na faculdade, nunca parei de ler muitos livros. Eu sempre queria aprender mais. Aos dezoito anos, já na faculdade, decidi, repentinamente, que eu queria conhecer Deus. Embora eu fosse ateísta, Deus sempre me atraía, e Ele era um verdadeiro mistério para mim. Eu saí de casa com a esperança de me juntar a alguma religião e me tornar monge. Então, através de meditação, eu me devotaria a conhecer e a descobrir Deus.

Eu fui para a Índia e me juntei a um grupo da Missão Rama Krsna a fim de me tornar um monge perfeito. A Missão tinha regras muito rígidas e severas. Todos tinham que acordar muito cedo pela manhã para meditar e realizar outras atividades regulares. Eu, todavia, não estava acostumado a levantar cedo, e era viciado em cigarro, o que era estritamente proibido na sede da Missão. Após três meses, deixei o grupo e retornei para casa, não conhecendo nada sobre Deus. Minha missão pessoal havia falhado. Na minha idade, entretanto, a tentativa foi, de qualquer modo, bastante empolgante.

Posteriormente, voltei para a universidade para estudar. Todo meu empenho foi direcionado para a obtenção de mais e mais conhecimento de forma que eu pudesse desprovar Deus em qualquer debate ou discussão. Eu ignorava as pessoas que eram religiosas e acreditavam em Deus. Gradualmente, os teístas me pareciam serem grandes tolos estúpidos. Algumas vezes, eu pensava: “Como é possível que alguém seja cego a ponto de acreditar em Deus?”. O teísmo parecia-me uma superstição extrema. A teoria do Big Bang, a teoria da evolução de Darwin, bem como os fantasiosos livros de OVNIs e seres extraterrestres, fizeram-me mais e mais ateísta.

O Incômodo Cantar de Meu Pai

Nasci e cresci em um ambiente onde meu pai era Vaisnava e vegetariano desde o nascimento. Quando o via não comendo peixe ou carne, eu o considerava estúpido, pois estava além de minha imaginação que uma pessoa pudesse deixar de comer carnes e peixes deliciosos e comer apenas legumes e verduras. Ele levantava da cama bem cedo, às 4 horas, e, sozinho, cantava o maha-mantra Hare Krsna com alguns instrumentos musicais. Isso me incomodava porque eu não conseguia dormir confortavelmente, mas eu nunca fui capaz de pará-lo.

Dias, meses e anos se passaram. Gradualmente, pude sentir algo dentro de mim: À proporção que eu tentava saber mais e mais para desprovar Deus, eu via que há alguns problemas e limitações fundamentais que os cientistas nunca poderão solucionar. Os cientistas dizem, por exemplo, que o universo foi criado a partir do Big Bang. Eles tentam descrever todos os estados do universo logo após o Big Bang até o tempo atual. Eles dizem que o espaço-tempo foi criado a partir do Big Bang e que este está se expandindo ainda hoje. Eles tentam mostrar como as várias categorias de partículas e sub-partículas foram criadas naquele estágio primeiro do universo e como esse universo imensamente harmonioso veio a ser o que é agora. Entretanto, surpreendentemente, nenhum cientista pode dizer por que o Big Bang ocorreu e por que ocorreu há cerca de quinze bilhões de anos atrás ao invés de mais cedo ou mais tarde. Finalmente, de onde a singularidade (a “coisa” que explodiu para se tornar o Big Bang) obteve sua massa de densidade infinita?

Os cientistas não são capazes de responder a tais questões fundamentais. Ao contrário, eles podem apenas sugerir possibilidades e promover suas opiniões pessoais. Comecei a duvidar de suas teorias porque me pareceu que os próprios cientistas acreditam em algo de que eles nada sabem. Em nome de ciência, eles promovem suas crenças, e isso está errado.

Assim, minha questão foi: Se tanto os teístas como os cientistas acreditam em algo que eles não conhecem verdadeiramente, qual é a diferença entre eles? Isso me fez pensar novamente em Deus. Ocupei-me em tentar conhecer Deus pela via da exploração científica. Em 1992, li o best-seller de Stephen Hawking, Uma Breve História do Tempo. Em 1980, quando ele escreveu o livro, ele disse que a Teoria do Campo Unificado deveria ser descoberta dentro de vinte anos. Vinte e oito anos se passaram, mas os físicos continuam confusos. A Teoria do Campo Unificado é um empenho em explicar o mundo com uma teoria todo-poderosa, mais provavelmente sem Deus. Em um sentido estrito, a TCU é o esforço com o intento de se encontrar a partícula única a partir da qual todas as outras partículas foram construídas e desvendar o mistério do universo. Teoreticamente, no entanto, descobrir a TCU é impossível, dado que é impossível criar alguma temperatura infinita em um laboratório ou em algum outro lugar para, através desta, ser possível criar artificialmente um Big Bang em miniatura. Isso é necessário para se obter toda a informação acerca daquilo que aconteceu durante o suposto Big Bang original.

Eu estava sempre ocupado com esta sorte de pensamento. Por ser ateísta, eu não estava verdadeiramente feliz. Provando um vazio interior, eu pensava que a vida não possuía um significado ou um propósito superior. Eu, todavia, não estava disposto a me considerar um animal, como advoga o darwinismo.

Fazendo as Conexões

Um dia, enquanto eu estava indo para o meu escritório em minha motocicleta, eu pensava em Deus e tentava conectar Deus, Sua criação, as explorações científicas e as teorias de origem do universo. Repentinamente, houve uma tempestade dentro de minha mente. Pensei em como o universo é impecavelmente harmonioso, com equilíbrio apropriado em grande escala, embora, de acordo com a segunda lei da termodinâmica, o universo não devesse ser harmonioso e equilibrado. Ele deveria chegar a um estado de desordem com o tempo. A fim de justificar essa discrepância, os cientistas imaginam uma espécie de matéria negra disseminada por todo o universo criando equilíbrio. Os cientistas dizem que somente dez por cento da massa do universo é visível; os noventa por cento restantes sendo matéria negra invisível.

Lembrei-me que a palavra Krsna significa tanto “negro” como “atração”. Pensei que talvez Krsna fosse a solução para esse grande problema fundamental.

Mudei a rota de minha motocicleta. Ao invés de ir para o escritório, fui ao templo local da ISKCON e comprei um Bhagavad-gita e uma coleção completa do Srimad-Bhagavatam. Fui para casa e comecei a ler primeiramente o Gita, sem qualquer demora. Assim como uma pessoa prestes a morrer de sede, bebi afoitamente as palavras. Aqui estão alguns dos versos que me deixaram especialmente perplexo:

“Ó conquistador de riquezas, não há verdade superior a Mim. Tudo repousa em Mim como pérolas ensartadas em um cordão”. (7.7)

“No começo do dia de Brahma, todas as coisas se tornam manifestas a partir do estado imanifesto, e, posteriormente, quando a noite cai, todas as coisas são imersas no imanifesto novamente”. (8.18)

“Ó filho de Kunti, ao fim do milênio, todas as manifestações materiais entram em Minha natureza, e, ao começo de outro milênio, por Minha potência, Eu as crio novamente”. (9.7)

“Toda a ordem cósmica está submetida a Mim. Sob a Minha vontade, ela é automaticamente manifesta repetidamente; e, sob a Minha vontade, ela é aniquilada ao fim”. (9.8)

“Esta natureza material, que é uma de Minhas energias, está trabalhando sob a Minha direção, Ó filho de Kunti, produzindo todos os seres móveis e inertes. Sob o critério dela, esta manifestação é criada e aniquilada repetidas vezes”. (9.10)

“A substância material total, chamada Brahman, é a fonte do nascimento, e é esse Brahman que Eu impregno, tornando possível o nascimento de todos os seres vivos, Ó descendente de Bharata”. (14.3)

Eu estava imensamente surpreso. Instantaneamente, compreendi que esta é a verdadeira teoria da criação do universo. Os cientistas procuram por isto há muito tempo, mas do modo equivocado – como ir para o Japão quando se está procurando pela América.

Compreendi que “tornam-se manifestas” (8.18) se refere à criação do universo e de suas quatro dimensões (sendo o tempo a quarta). O estado imanifesto é o mundo virtual de mais do que quatro dimensões. Os cientistas teorizam um mundo virtual de nada menos do que onze dimensões, e eles dizem que o nosso universo será destruído um dia e então criado novamente. De acordo com a Teoria das Cordas e outras teorias, esse processo se repete continuamente. O verso seguinte afirma a mesma idéia: “Repetidamente, quando o dia de Brahma chega, todas as coisas vêm a ser, e, com a chegada de sua noite, elas são desamparadamente aniquiladas”. (8.19)

Sem mais nenhum tardar, deixei o ateísmo e me tornei teísta, tendo desperdiçado trinta valiosos anos de minha vida. Mas considero-me afortunado, e fico feliz em pensar que o Senhor Krsna derramou Sua misericórdia sobre mim. Agora, seguindo o exemplo de Arjuna, refugio-me de todo o coração aos santos pés do Senhor Krsna. Como Ele nos instrui: “Ocupe sua mente em sempre pensar em Mim, torne-se Meu devoto, ofereça-Me reverências e adore-Me. Completamente absorto em Mim, certamente você virá a Mim”. (9.34)


Tradução de Bhagavan dasa (DvS) – www.devocionais.xpg.com.br

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